sexta-feira, 22 de abril de 2016

O Império Cinematográfico da Hasbro



O Universo Cinematográfico da Hasbro, a fabricante de brinquedos, dona de marcas como G.I. Joe e Transformers, se ficar de acordo com o prometido, deverá ser vasto, impressionante e muito rentável. E para isso está montando uma equipe de escritores e roteiristas de respeito para juntar tudo em um universo compartilhado. 



A Marvel provou que um universo cinematográfico compartilhado pode ser rentável e vasto se bem planejado e concatenado, uma mina de ouro para produtos licenciados, quadrinhos, games e qualquer coisa relacionada com uma marca de sucesso. Star Wars, que desde de 1977 goza de respeito por ter praticamente reinventado as regras de tal jogo de licenciamento, agora sob a tutela da Disney, se abre para a diversificação e ir além do núcleo Skywalker, o que já começou com a animação Rebels e já tem em Rogue One, o primeiro spin off de cinema da franquia, o filme mais esperado de 2016 . A DC Comics vai começar algo semelhante com o Universo Hanna-Barbera, mas somente para os quadrinhos, agora em maio, nos EUA. Porque no cinema, a DC ainda não leu direito a cartilha. 

A Hasbro, a gigante fabricante de brinquedos e licenciada pra produzir as linhas principais de action figures e demais brinquedos das duas marcas da Disney, com certeza, não seria ingênua de não enxergar as possibilidades na estratégia de sua parceira. E a Hasbro tem balas pra essa guerra. Embora hoje sua linha mais rentável (linha própria, lembre-se) seja Transformers, a Hasbro é dona do G.I. Joe, considerado a primeira action figure, o primeiro boneco feito para meninos que não usaria o termo "doll" como ferramenta de marketing. Embora já existissem bonecos para meninos desde sempre (cavaleiros, soldadinhos de chumbo, o Forte Apache, etc), foi a Hasbro que cunhou o termo Action Figure em 1963, para o lançamento do G.I. Joe, The American Moveble Fighting Man, na Toy Fair de 1964. A Hasbro, então ainda somente Hasselfeld Brothers, já era uma grande fabricante de jogos de tabuleiro, dona do Monopoly (o nosso Banco Imobiliário), do Risk (o nosso War) e do Battleship ( nosso "Batalha Naval") entre outros, via o nicho do boneco para menino no rastro da Barbie da Mattel, que virara o padrão de boneca para menina. Vale lembrar que Battleship virou filme já na tentativa da Hasbro de transformar seus jogos em filmes e que ainda temos boatos de um filme de... Monopoly!

Mas quem cresceu nos Anos 80 lembra de outras coisas que a Hasbro lançou, mesmo que no Brasil só tenham chegado as animações e os quadrinhos. Entre elas estão M.A.S.K - Mobile Armored Strike Kommand, o desenho dos carros que se transformavam em veículos de combate futuristas que foi exibido pelo SBT e passava antes do desenho Pole Position; e Visionaries, Os Cavaleiros das Luz Mágica, o desenho dos cavaleiros de um mundo mágico que recebem poderes totêmicos através de cetros e armaduras, que foi exibido no Show da Xuxa, contemporâneo ao desenho do Comandos em Ação; Micronautas, a saga de um grupo rebelde que enfrenta a tirania do Barão Karza e ROM, o Cavaleiro do Espaço, o nobre herói do planeta Gálador que sacrificou sua humanidade para se tornar um ciborgue e enfrentar os malévolos espectros, ambos publicados em quadrinhos pela Marvel e no Brasil pela Editora Abril, nas revistas de linha da época, Micronautas na Heróis da TV e Rom na revista d'O Incrível Hulk. 

Agora a Hasbro “trancou” um time de peso em uma sala para planejar e criar um universo cinematográfico que contemple todas essas marcas e dê nova vida a elas para que possam ser tão rentáveis quando Transformers é. E juntas no mesmo universo. 

O primeiro nome é Michael Chabon, autor do romane The Amazing Adventures of Kavalier & Clay e com algum crédito por Homem-Aranha 2. Depois temos Brian K Vaughan, criador de Y: O Último Homem (uma das melhores coisas que já li) e Saga e showrunner de Under the Dome. E também temos Nicole Perlman, co-autora de Guardiões da Galáxia e da boa fase da Capitã Marvel.

Michael Chabon


Brian K. Vaughn
Nicole Perlman
E não são só apenas eles!!! Também temos no time criativo:
  • Lindsey Beer (Transformer 5)
  • Cheo Coker (showrunner de Luke Cage )
  • John Francis Daley e Jonathan Goldstein (Spider-Man: Homecoming)
  • Joe Robert Cole (People vs. OJ Simpson, Pantera Negra)
  • Jeff Pinkner (da adaptação de A Torre Negra)
  • Nicole Riegel (escritora por trás do script Dogfight de The Blacklist)
  • Geneva Robertson (do projeto do novo filme de Tomb Raider)
Akiva Goldsman
O escritor ganhador do Oscar por Uma Mente Brilhante, Akiva Goldsman, servirá de “supervisor” da sala de escritores e como produtor executivo para todos os filmes. Goldman vai ser para a Hasbro e Paramount o que Kevin Feige é para a Marvel. Para produzir os filmes, a Hasbro vai usar a sua marca de produção, a Allspark Pictures e o chairman e CEO da Hasbro, Brian Goldner e o produtor executivo e CCO Stephen Davis serão os produtores. O cabeça de narrativa da Hasbro, Josh Feldman, será co-produtor executivo. 

"Nós, em primeiro lugar, buscamos reunir uma lista de escritores que queríamos que estivessem conosco no negócio e poderiam ser o contadores de história que precisávamos", disse Stephen Davis. "Mas nós queremos ter certeza de que na sala temos diversas perspectivas, diversos backgrounds, e diversas experiências. "

"Empoderamento feminino é um tema central através de um várias dessas linhas e uma das razões que queríamos diversas vozes", disse ele.

Até o momento, os filmes de Transformers já arrecadaram mais de US $ 3,8 bilhões, além dos montantes trazidos pelos filmes do G.I. Joe.

As dúvidas e as possibilidades

Agora ficam as dúvidas, por exemplo, como juntar tudo isso num universo só? Confesso que o que a DC Comics vai fazer com a Hanna-Barbera jutando Johnny Quest, Space Ghost, Herculoids, Frankenstein Jr e outros numa saga espacial para salvar o universo me assusta um pouco. A solução do Scooby-Doo num apocalipse zumbi me pareceu mais legal. A receita de Star Wars já parece apetitosa só de ver os trailers. Marvel é até covardia comentar. A DC ainda tem muita lição de casa para fazer, já que seu universo de cinema não conversa com o da TV e podem criar o conceito das Terras paralelas. 

Transformers e G.I. Joe já são pão e manteiga desde os crossovers nos quadrinhos da Marvel nos Anos 80, tanto que em Transformers e em suas sequencias, os militares são presença constante e de destaque e, no primeiro filme, apresentados de forma magistral, como só o Michael Bay consegue e, por isso, sempre bem aceito pelas forças armadas dos EUA. Não seria difícil colocar as duas franquias no mesmo universo, há material suficiente para ótimos trabalhos, inclusive muita coisa recente da Devils Due e da IDW. Talvez se esbarre na reformulação do G.I. Joe anunciada pela Hasbro por conta de hoje pegar mal militares enfrentando terroristas mascarados, pois lembraria as vítimas do Estado Islâmico a falta de face de seus algozes. Então não sabemos como ficará a situação da organização COBRA.

M.A.S.K. já é outra franquia fácil de incluir, tanto por já ter tido um crossover do Especialista Matt Tracker, o líder dos mocinhos, com o G.I. Joe nos lançamentos da linha de brinquedos quando da série 25th Anniversary, já indicando que havia planos de juntar, pelo menos, G.I. Joe e MASK. E, claro, veículos comuns que na verdade se transformam em carros de combate que voam, se tornam lanchas, helicópteros e muito bem armados e controlados por máscaras high-tech e uniformes especiais casariam com as duas franquias anteriores. Inclusive até a tecnologia transformer pesquisada pelos humanos já seria uma boa desculpa para termos tais veículos. Até aí, tudo casadinho e bem arranjado, fácil de engolir e vender porrilhões de bonequinhos. Na linha original eram figuras de 2,5 polegadas, menores que os 3 ¾ de polegada do G.I. Joe de 82. E, claro, teve quadrinhos também.


Aí vem Micronautas. Eles tem esse nome porque são alienígenas de um sistema bem distante e são do tamanhos de nossos G.I. Joes em nosso planeta. São micros. Ok. Alienígenas só precisam cair na terra para envolver os humanos em sua guerra. Fácil juntar esse universo também, e com uma pitada de Terra de Gigantes essa saga meio inspirada em Star Wars pode render bem. Ah, e eles virem para a terra e nos envolver em sua guerra aconteceu nos quadrinhos, veja só que coisa inédita!!! Mas foram uma linha de brinquedos antes de termos os quadrinhos desenhados pelo Michael Golden. E tem história aí, rende uma matéria só deles. 


Rom, o Cavaleiro do Espaço, singra o espaço para exterminar os Espectros, uma espécie alienígena predatória e transmorfa, que se infiltra em planetas para conquista-los, exauri-los e destruí-los como qualquer alienígena gafanhoto gosta de fazer. Não deve ser tão complicado também. Quem abriga robôs alienígenas e microrebeldes, abriga uma conspiração galáctica fácil. 



Acho que a porca vai torcer o rabo com Visionaries, pois eles vem de um mundo mágico, místico, cheio dos feitiços e suas armas e habilidades se baseiam na luz mágica concedida a eles pelo mago Merklinn. Mesmo seus veículos aparentemente tecnológicos são movidos por essa magia. Mas a Marvel acertou a inserção do mundo divino do Thor e caminha para nos surpreender com Doutor Estranho em novembro. Então não é impossível. 
A linha de brinquedos tinha figuras maiores, de pouco mais de 4 polegadas.




Conversando com amigos colecionadores e nerds velhos como eu, para G.I. Joe, o brinquedo soldado está em baixa, como estava no final dos anos 60 por conta da Guerra do Vietnã, e se não foram fracassos de bilheteria, os filmes também não conseguiram repetir as bilheterias expressivas de Transformers, mesmo com os roteiros bisonhos das 3 sequencias. Crianças ainda se maravilham mais com o Optimus Prime montado num tiranossauro cibernético que cospe fogo do que em encontrar sentido para ele estar lá. Ok. Confesso. É massa se você esquecer de prestar atenção. Mas a gente chega numa idade que não consegue evitar de prestar atenção. 

A estratégia pra os brinquedos nos anos 80 era sempre criar uma linha de brinquedos e um desenho pra contar a história. Funcionou com M.A.S.K., Transformers, Visionaries, G.I. Joe (embora pra esse o desenho tenha vindo depois do brinquedo, mas o quadrinho veio junto) . A Mattel também fez isso: He-Man foi idealizado para sair com o desenho Masters Of The Universe, assim como Thundercats gerou uma linha da LJN. Jace foi um desenho criticado, mas a linha de carrinhos da MAttel era linda, mas nunca chegou ao Brasil. Essa estratégia funcionava, e ainda hoje funciona com Star Wars e Marvel. 






Para G.I. Joe, talvez ter uma série adulta de TV na linha do que a Netflix faz, ou com uma pegada a la Strike Back ou The Unit, e um desenho animado infantil, como o Transformers Rescue Bots, poderia dar uma renovada. Talvez a linha revisite o Action Team, o que era o G.I. Joe de 12 polegadas que veio a ser o nosso Falcon, quando o brinquedo soldado perdeu o fôlego nos fins da década de 60. Um bom videogame talvez ajudasse. Mas o que a Hasbro vai fazer para renovar a marca é um mistério para os fãs e colecionadores que talvez só seja desvendado depois da JoeCon nos EUA em junho, quando provavelmente a Hasbro deve anunciar algo para acalmar os fãs depois de decretado o fim da parceria com a Fun Publications, que administras os fã clubes de G.I. Joe e Tranformers




Transformes já está garantido e é a linha própria que mais vende. E justamente por isso já tem 3 filmes programados, incluindo um solo do Bumbblebee

Mas as marcas antigas, há muito sem base com as novas gerações, vão precisar de muito para concorrer com o que já existe nos corações cheios de Homens-Aranha, Homens de Ferro, Capitães América e Hulks, Reys e Kilo Rens, Vaders e Storm Troopers. Mas ainda acho que podem penar menos que o Superman e o Batman. A geração videogame precisa de algo muito bom para ser mesmo fisgada pelo mercado. A Hasbro sempre soube fazer isso, esperamos que ainda saiba. 

Vamos ver o que o futuro reserva para os corações das crianças dos anos 80.

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